Síndrome da impostora: adquirido ou imposto?

Priscila Regis
3 min readAug 16, 2021

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Esse final de semana alguns pensamentos ficaram fixos na minha mente. E eu pensei: preciso colocar para fora de alguma forma… Foi aí que comecei a escrever sobre o terror que ronda muitas pessoas, a famigerada síndrome do impostor:

Se você sente constantemente que o que você faz não é bom o suficiente, você pode ter a chamada síndrome do impostor. É um termo psicológico que descreve um padrão de comportamento no qual você duvida de suas realizações e tem um medo persistente de ser exposto como uma fraude, como incompetente.

Mas a despeito dessa definição, eu comecei a pensar: como não sentir síndrome da impostora quando em diversas oportunidades o empregador me colocava em posição de “fique grata por estar aqui”, “apesar de você ser quem é, olha onde você chegou”, “você conseguiu [insira aqui alguma migalha], seja grata”? Como não me sentir essa síndrome, quando eu era a menos remunerada da equipe, mesmo desempenhando uma função de extrema importância? Quando diziam praticar meritocracia, mas a sua situação financeira, reconhecimento profissional nunca vinham?

Quando você vive as situações acima, é difícil chegar em um ponto em que oferecem um salário justo e adequado e você não duvida de que algum equívoco foi cometido ou me deram mais do que você merecia, ou que você não é suficientemente capacitada para estar ali e logo vão descobrir.

Diversas vezes eu ouvi o quanto a autoestima do homem branco deveria ser vendida em um potinho… Mas, por que isso? Porque temos nessa sentença os dois recortes de maior poder na sociedade. Nada foi negado à eles em momento algum da história, não é difícil eles acharem que sempre podem mais, mas não podemos falar o mesmo das mulheres, menos ainda das mulheres negras que ainda hoje são as que possuem os menores salários.

E por falar de injustiça, como não pensar que as injustiças que sofri no decorrer na minha história têm relação com meu gênero, classe social e/ou etnia? A falácia da meritocracia me fez muitas vezes crer que eu não estava fazendo o bastante, que eu precisava chegar mais cedo (mesmo morando há 40km do escritório), que eu precisava fazer mais (mesmo atuando como se tivesse senioridade maior do que a me fora definida), que eu precisava me destacar ainda mais (mesmo tendo avaliações que diziam que eu era muito boa).

Muito tem se falado de diversidade nas empresas, mas no frigir dos ovos a situação muitas vezes é só falada mesmo. Não se trata apenas de contratar pessoas pretas, trans, PCD’s, mulheres e afins. Antes, é necessário ver como estas estão sendo inseridas nos times, se elas tem recebido o suporte necessário para desempenhar suas tarefas, se elas recebem salários, promoções e bonificações compatíveis com seus trabalhos e não menos do que os colegas fora da diversidade recebem. É preciso pensar em equidade (dando as condições que corrijam as desigualdades), pois só assim teremos oportunidades realmente justas.

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Priscila Regis

Baiana vivendo em São Paulo. Designer de Produto Designer Preta. Graduada em Design, Análise e Des. de Sistemas